O dia mundial da água é comemorado em 22 de março, foi criado pela ONU (Organização das Nações Unidas) em 1992. Muita gente aproveita o ensejo para refletir um pouco sobre esse bem precioso. No entanto, é preciso ficar atento, muito atento a ele durante todo o ano. Por exemplo, você tem acompanhado os avanços (ou não) para atingir o objetivo do Desenvolvimento do Milênio, traçados pela ONU há 10 anos, de cortar pela metade o número de pessoas sem acesso à água potável?
O novo relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) nota os avanços no que diz respeito a esta questão, com 87% da população com acesso hoje em dia a esse bem essencial e acredita que alcançará o objetivo em 2015. Mas quanto ao saneamento básico, a situação é bem diferente. Apenas metade da população dos países em desenvolvimento tem uma casa de banho, uma latrina ou uma fossa sética de uso doméstico.
Nós brasileiros temos uma responsabilidade extra quanto a esse assunto, pois podemos nos considerar privilegiados por abrigarmos a bacia Amazônica e o aquífero Guarani - os maiores do mundo em suas modalidades hídricas, além dos rios São Francisco e Paraná, unidades hidrográficas de importância inestimável. Esses três rios formam uma das maiores redes fluviais perenes do planeta.
Os países que mais têm água e os que têm menos
• 60% da água doce está concentrada em poucos países que, em ordem decrescente, são: Brasil, Rússia, China, Canadá, Indonésia, Estados Unidos, Índia, Colômbia. Zaire, Papua Nova Guiné.
• Os países que mais sofrem a falta de água são, em geral, os africanos, onde 300 milhões ou 62% das pessoas, não têm água suficiente para sua vida normal. 313 milhões de pessoas estão sem saneamento básico, fator que acarreta doenças de todos os tipos.
• Na Ásia, 693 milhões não têm acesso à água potável, através dos serviços públicos, enquanto 1,9 bilhão de pessoas carecem de saneamento básico.
• Na América Latina, 15% da população não têm acesso à água (cerca de 78 milhões) e 117 milhões, ao saneamento básico.
• Na Europa, apenas 0,5% da população nas áreas rurais não têm acesso à água encanada e 6% não dispõe de saneamento básico.
Fórum
O último Fórum Mundial da Água, em Kyoto no Japão, divulgou um documento que decepcionou todos os delegados dos diversos países participantes. Em lugar de tomar decisões para definir uma política séria e competente sobre o grave problema da escassez da água potável, o documento se limitou a sugestões pouco comprometedoras.
A reunião teve a participação de delegações de 170 países e territórios, mais os representantes de 43 organizações internacionais e Ongs, cujo intuito era ver como realizar a proposta da Cúpula de Johannesburgo, isto é, de reduzir pela metade, até 2015, o número das pessoas que não têm acesso à água potável. Atualmente, no mundo, há 1,4 bilhão de pessoas com dificuldade de acesso a água potável, e outros 2,3 bilhões não têm um sistema básico de saneamento.
Apesar das declarações enfáticas sobre o valor da água e a erradicação da fome, no documento de Kyoto, não se reconheceu, como direito fundamental dos povos, o acesso à água potável, conforme o pedido das Ongs. Estas denunciaram, também, a existência de interesses econômicos por trás do relatório, privilegiando grandes projetos que envolvem muito dinheiro e ignorando, de propósito, os pequenos investimentos locais que seriam muito mais baratos e eficientes para resolver o problema da água potável.
Apesar das declarações enfáticas sobre o valor da água e a erradicação da fome, no documento de Kyoto, não se reconheceu, como direito fundamental dos povos, o acesso à água potável, conforme o pedido das Ongs. Estas denunciaram, também, a existência de interesses econômicos por trás do relatório, privilegiando grandes projetos que envolvem muito dinheiro e ignorando, de propósito, os pequenos investimentos locais que seriam muito mais baratos e eficientes para resolver o problema da água potável.
Tentou-se justificar a guerra no Iraque com vários motivos, como a necessidade de derrubar um ditador, mas sabemos que a principal causa é a posse do petróleo abundante no subsolo iraquiano, fato que torna o Iraque o segundo maior produtor desse ouro que se torna cada vez mais importante e cada vez mais escasso. Os outros motivos são desculpas para tentar dar à guerra certa legitimidade. Menos visível, mas também muito importante, há uma outra causa para esse conflito: o controle das águas dos rios Tigre e Eufrates.
Situado na região árida e desértica do Oriente Médio, o Iraque, além do petróleo, possui o domínio desses rios e poderia, num futuro, construir barragens e fazer chantagem com os países vizinhos. A água, também chamada ouro azul, hoje, é mais importante que o petróleo por causa de sua escassez, provocada pelo descaso dos países que a consideravam abundante e inesgotável. O Kuwait, país rico em petróleo, dispõe somente de 10 metros cúbicos/ano de água por habitante, enquanto a média considerada mínima para a subsistência de um país seria de 1000 metros cúbicos ao ano por habitante.
Outros países já sofrem dessa escassez, como Japão, Arábia Saudita, Israel, Síria. Entre estes dois últimos, o rio Jordão já foi já motivo de guerra e ainda o será, num futuro mais ou menos próximo, se não houver uma regulamentação internacional do uso da água dos rios. O rio Jordão nasce na Síria, mas abastece Israel. Assim, com o intuito de prejudicar o país vizinho, a Síria já tentou desviar o rio para seu território, mas essa tentativa gerou um ataque das forças israelenses (1965) que ocuparam as colinas de Golan - fato que possibilita o controle das fontes de água do rio - e, até agora, ainda não as restituíram.
O lago de Tiberíades, a maior reserva de água doce em Israel, já abaixou 40 cm de seu nível e o uso da água potável em Israel é rigorosamente controlado. A Onu já alertou que a água e seu controle serão motivo de crises e de guerras em tempos próximos. Enquanto a humanidade, o superpovoamento e a indústria requerem, cada vez mais, uma maior demanda desse elemento, temos, de outro lado, uma diminuição de água potável, o que provocaria nos países mais ricos, à vontade de dominar as fontes de água potável até pela conquista armada.