A indicação de filmes aos pré-vestibulandos é um dos raros sopros de inteligência que ocorreram nos últimos vestibulares.
Bela parceria. Verdadeiro oxigênio ante a abordagem abominável dos currículos escolares, a sugestão de filmes aos vestibulandos pode “salvar a pátria” em uma guerra difícil.
Não me custa lembrar o hediondo crime de lesa-educação praticado todos os dias em colégios do ensino médio brasileiro, públicos e, principalmente, particulares. O entupimento de mentes adolescentes de conteúdos inócuos, a prioridade, via carga horária, das chamadas matérias exatas, a forma absolutamente desinteressante como o conhecimento científico é ensinado, tudo isso produz um caldo de cultura que bate fundo no desestímulo do estudante pré-universitário. É de se perguntar: pra que tudo isso? Aprender tem que rimar com sofrer?
É aí que o cinema entra em cena. Há muito tempo que, para essa moçada, a informação é, primordialmente, visual. Cinema, televisão, Internet, games, tudo passa pela visão antes de ser “digerido” pelo intelecto. Portanto, é uma linguagem com proximidade total, que goza de extrema cumplicidade com essa turma.
Um problema abordado em um filme, com enredo, imagens e ritmo, chega muito mais rápido à mente de um jovem do que uma preleção acadêmica de hora e meia, sobretudo se o professor não prima pela comunicação dinâmica. O cinema tem o poder de seduzir o olhar e preparar o terreno para a reflexão posterior. Aí, sim, um professor “tarimbado” pode assumir o papel de facilitador e transformar a aula em informação de ponta.
Imaginem vocês quantas aulas maravilhosas poderiam nascer de uma sessão de “Deus e o Diabo na terra do sol”, de Gláuber Rocha? Quantos temas que ainda infestam a nossa realidade estão ali, imutáveis, mesmo passados quarenta anos? Basta que citemos AS DESIGUALDADES SOCIAIS, A SECA E A FOME NORDESTINAS, e o FANATISMO RELIGIOSO. Estão fora de nossa pauta? Claro que não! Mas já estavam lá, na reflexão de Gláuber, na preocupação do Cinema Novo. Só que, no filme, tudo isso será artisticamente “didatizado”, desafiando a inteligência e a sensibilidade do aluno/espectador, redimensionando sua percepção do mundo e da realidade.
É preciso que, além da Ufba, da Uesc e da Uneb todas as outras instituições, publicas e privadas adiram também. Mais do que isso: que o ensino médio inclua em seu currículo, como matéria transversal, esse grande instrumento que seduz o olhar e incendeia a mente. Cinema neles!!!
Jorge Portugal
Educador, poeta e membro do Conselho Nacional de Políticas Públicas.
Educador, poeta e membro do Conselho Nacional de Políticas Públicas.